
Lembro que, quando te vi, fiquei com a imagem de uma boneca muito pequenina cheia de cabelo negro, muito negro. Foste trazida por uma cegonha e entraste pela janela da casa de banho. Na altura considerei ter sido algo de extraordinário: a janela da casa de banho tinha grades! Mas, na inocência dos meus oito anos, acreditei... Só me deixavam ver-te de longe, sem autorização para te pegar: eras um tesouro, um tesouro muito grande, em oposição ao teu tamanho! Lembro também dos teus olhos, que eram grandes. Foste uma alegria para todos e tinhas a bênção dos avós para fazer tudo o que querias. Tornaste-te num terror para mim! Dormias no meu quarto e choravas durante a maior parte da noite. Tinhas de ser embalada ao colo e, mesmo assim, choravas. Soubemos mais tarde que sofrias de asma, o que acontece até hoje. Também tinhas a mania de querer tudo o que eu comia. Quando me preparava para almoçar ou jantar, desatavas numa berraria a dizer que querias o meu prato. E o facto é que te faziam a vontade: a menina precisava de comer, claro! Puxavas-me o cabelo, apanhado em rabo de cavalo. A solução mais óbvia foi cortarem-mo, para as birras acabarem. Cresceste, casaste, foste mãe e, hoje, somos amigas. A diferença de idades já não se nota. Não imagino não te poder falar... Fica bem depressa, por favor!
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